Capítulo 13 - C.U.L.P.A. (Como Usar e Lambuzar Progressivamente de Alguém)
-COMO É QUE É, SEU FILHO DE UMA VACA LEITEIRA? - gritou Priscila do outro lado da linha.
Aquele tom de voz representava (e muito) um grande problema pra mim.
-Pri, pare de gritar com o cara... - pediu uma voz (meio) masculina. Claro que era Henrique.
Como eu imaginava, ela colocara a ligação no viva-voz para ambos ouvirem.
A propósito, eu nunca comentei, mas a Pri e o Henrique eram irmãos.
Gêmeos.
Tinham os mesmos traços finos e os cabelos claros, mas não se pareciam tanto. A personalidade explosiva, abobada e sem noção é o que realmente destacava a semelhança deles.
-Pri, você sabe como eu gosto del-
-EU NÃO QUERO SABER! QUE MERDA É ESSA DE SER CORNO MANSO? VOCÊ NÃO FOI CRIADO ASSIM, JOÃO GUILHERME. EU JÁ TE ENSINEI COMO TRATAR UMA MULHER ADÚLTERA: TEM QUE MANDAR ELA IR TOMAR NO C-
-Priscila se controla e se você terminar essa frase, vai ver o que é realmente tomar nesse lugar - avisou uma voz feminina no fundo. Devia ser a dona Rita, mãe dos dois. Eu ri baixinho.
Desde aquele nosso primeiro reencontro, Ana e eu praticamente voltamos ao que éramos antes.
Namorados complicados.
Eu a beijei e senti aquele costumeiro calor de satisfação de ter quem eu amo em meus braços. Era maravilhoso e qualquer vestígio de mágoa se dissipou ali.
Ana retribuiu o beijo com a mesma vontade, acariciando minha nuca de leve com uma mão e tocando meu braço com a outra. Estava tão feliz que esqueci da quantidade de pessoas que provavelmente estaria a nossa volta. Ao pensar nisso, separei-me dela e olhei para os lados esperando vaias e zoações. Mas, tirando algumas garotas novatas olhando diretamente pra mim e sussurrando entre si, ninguém parecia se preocupar com a nossa presença.
Olhei para Ana e sorri automaticamente ao ver sua única covinha, que eu tanto sentia falta.
-Você tá lindo, sabia? - comentou ela olhando o meu cabelo. Eu tinha deixado ele crescer um pouco, mas nada tão diferente de antes.
-Não preciso falar de você, certo? - toquei seu rosto com o polegar novamente, saboreando o momento da melhor forma. Ela reagiu ao toque com um sorriso ainda maior, que se transformou em uma expressão triste em segundos. Como assim?
-Me desculpe, Gui. Eu nunca quis te magoar, de verdade. Eu te amo tanto tanto tanto - suas mãos pressionaram minha nuca para que nossos rostos se aproximassem mais. Seus olhos não desgrudavam dos meus - Não vou te decepcionar mais, eu juro! Sabe esses dias eu fiqu-
Calei-a com mais um beijo. Não queria que ela voltasse a falar de todo aquele momento ruim. Ela sorriu de volta, aliviada, entendendo que tudo aquilo já era passado.
E foi assim que nós voltamos. Eu, completamente feliz, pedi do jeito mais simples "volta comigo?" , ela riu e disse "claro, seu babaca".
E, claro, por isso a Pri estava puta da vida comigo. E eu, de certa forma, concordava. Eu tinha sido um babaca apaixonado outra vez.
Mas e daí? Tirando a falação de todo mundo, eu estava feliz.
Bom, quase feliz.
Mais tarde meu celular tocou e eu atendi sem olhar quem era. Eu já estava esperando a ligação de Ana, portanto tinha certeza que era ela.
-Alô.
-Oi Gui.
Não era a Ana.
-Quem é?
-Ana. Ana Júlia, ainda lembra de mim? - ela riu.
Eu achei que depois de voltar com a Ana eu ia simplesmente romper qualquer laço físico com a Julia e que não ia ligar nem um pouco.
Mas eu estava errado. Ao ouvir a voz da garota, eu me assustei e um sentimento gigantesco de culpa se apoderou sobre mim.
-Claro que não, ha-ha. E aí Magrelinha, beleza? - tentei parecer normal, mas eu não sabia como falar que estava comprometido de novo.
-To bem e você? Sabe, senti sua falta esses dias...
Eu não deveria me importar, mas aquilo realmente mexeu comigo. A Júlia tinha feito companhia pra mim todos esses dias frustrantes. Ela satisfizera minhas vontades, tanto emocionais quanto sexuais. Tinha sido, basicamente, o que chamamos de amizade colorida. Uma amiga com brindes.
-Olha Ju, preciso falar com você. Posso ir até aí?
Ela pareceu mais feliz.
-Claro! Agora?
-É, tem como?
-Sim, mas meu pai está aqui...
Revirei os olhos e ri. Será que eu só pedia pra ir até a casa dela por sexo?
-O que? - ela riu comigo - Só to avisando! Você quando fala assim, fica meio óbvio...
-Relaxa, só quero te ver. E conversar.
Desliguei o telefone e fiquei alguns segundos parado, pensando no que eu acabara de fazer.
Eu nunca tinha pensei que teria de me desculpar com uma menina por estar com a Ana. Assim, me desculpar sinceramente, porque eu estava mesmo me sentindo culpado.
Arrumei meu cabelo de qualquer jeito na frente do espelho, vesti minha velha e única jaqueta de couro e saí, depois de responder ao questionário da minha mãe, claro. "João Guilherme, onde você vai? Com quem? Ah, a Ana Julia? Ela é linda! Mas você não tinha voltado com a Ana? Ué menino, que historia é essa de ter duas namoradas? João Guilherme, olha lá! Menino, volta aqui, deixa eu arrumar esse seu cabelo direito. Você passou perfume? Mulher adora homem cheiroso..."
E blá, blá blá. Essa é minha mãe.
Depois de eu deixar ela me perfumar, ajeitar meu cabelo com um pente, dobrar a gola da minha jaqueta, mandar eu levar o celular e amarrar o cadarço, consegui sair de casa.
Fui devagar, pensando em como eu ia contar pra ela.
"Olha, Julia, eu voltei com a minha ex. Aquela que me traiu, sabe? É, então, eu voltei com ela porque eu sempre a amei e só tava com você pra tentar esquecê-la. Infelizmente eu não esqueci e agora ela voltou pra mim. A gente não pode mais se ver, beleza? Foi legal. Tchau."
Tá, eu sou um filho da puta. Mas, se serve de consolo, eu me sinto culpado.
De verdade.
sábado, 8 de outubro de 2011
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