domingo, 31 de julho de 2011

Batata Frita e Sorvete XI


Capítulo onze - Idiota Romântico



A última ligação que recebera no celular parecia ter me acordado de um pesadelo terrível. Naquele momento, enquanto subia lentamente as escadas do colégio, eu me sentia -depois de vários dias- bem.
Percebi que toda aquela "felicidade" que eu estava sentindo por ter um rolo com a Júlia e por desencanar da Ana era falsa. Aquele momento, mesmo em choque e com o estômago estranho, eu me sentia extremamente feliz. E leve. As palavras de Ana tiraram um peso enorme de mim. Ela não queria me humilhar, ela estava fora de si... ela não tinha nada com o Prancha e, o principal, ela me amava.
Claro que ela deu uma mancada imensa e me magoou, mas ela conseguiu reconhecer o erro! O que era bom porque geralmente ela não ficava tão arrependida das coisas que ela fazia.
Minha cabeça era uma mistura de diversos pensamentos relacionados à Ana quando eu voltei para a sala de aula. Estava tão em transe que não percebi os olhares de preocupação de alguns amigos enquanto caminhava para a minha carteira. Também não ouvi a Pri cochichar perguntando o que aconteceu. Eu estava longe demais para prestar atenção no presente...


Eu estava em um lugar bem mais fechado e quente. Havia móveis cobertos de pó e muita bagunça. Com certeza não era um bom local para morar, aquilo estava mais para um depósito velho. Ou uma casa abandonada, como eu costumava chamar.

Eu estava deitado em um colchão duro no chão. Parecia ser a cama dos meus pais quando meu avô morava ali.
O foda era lembrar que diabos eu fazia lá. 
Franzi o cenho e me coloquei sentado, esperando que lembranças voltassem devagar. Mas não foi preciso esforço: ao ver pernas nuas e delicadas ao meu lado, minha mente se preencheu com as melhores memórias da minha vida. 
Eu estava aos beijos com Ana na grama, o clima esquentou e viemos para a cabana. Lá, quando parei de beijá-la para ver seu rosto ela se envergonhou e não quis continuar. Tive que insistir e fazer promessas românticas para que ela cedesse. E depois de alguns minutos ela acabou me calando com um beijo, o que entendi como uma chance.
Tentei ser o mais tranquilo possível, tirando suas roupas devagar e não forçando-a a nada. Esperei que ela estivesse mais à vontade para não termos outra interrupção. Depois de um tempo apenas beijando-a e sussurrando em seu ouvido que a amava , Ana pareceu ignorar a vergonha. Não parecia mais tímida tocando toda a extensão do meu corpo e reagindo aos meus toques com arranhões em meus braços e costas. E quando encontrei seus olhos, eles transpareciam desejo e amor, não desconforto.
Foi infinitamente perfeito. Eu a tinha por inteiro, sussurrando meu nome diversas vezes enquanto eu a enchia de carícias..
Haha, falando assim eu pareço um idiota romântico. Bom, talvez eu o seja mesmo. Mas, sinceramente não me envergonho disso. Eu conseguia expressar tudo o que eu sentia para a garota, eu conseguia fazer ela se sentir amada.
Larguei as lembranças do dia anterior e  passei a acompanhar a silhueta do corpo de Ana debaixo do lençol sem reparar muto nos detalhes para não despertar outra onda de desejo. Fui direto para seu rosto, inocente em quanto dormia. Os olhos fechados, os lábios levemente entreabertos, a testa livre de linhas de expressão. Quem a visse daquele jeito diria que a garota é um anjo. Engana bem, até.
Não queria acordá-la, -ela estava linda- mas a vontade foi maior. Inclinei o rosto para beijá-la, acordando-a na mesma hora, como eu previa. Seus olhinhos castanhos demoraram alguns segundos para entrar em foco e, quando me visualizaram, um sorriso iluminou  seu rosto. Sorri em retribuição e a beijei de novo. Não queria sair dali, não queria que aquele momento acabasse.
Então Ana franziu o cenho e me olhou de um jeito estranho. Logo depois olhou para seu próprio corpo nu e para mim novamente. Seus olhos se arregalaram de um jeito assustador e ela daria um berro se eu não começasse a me explicar logo.
-NÃO GRITA! - alertei, prevendo sua próxima ação - Calma, calma. Aconteceu e foi bom, você não se lembra? - De repente algo muito desagradável se passou por minha mente e me fez olhar severamente para a ruiva deitada ao meu lado - Você estava bêbada ou drogada?! Não, porque se você estava...
-Shhh - ela tocou em meus lábios com o dedo indicador e olhou para acima de mim por uns instantes, parecia estar recobrando as lembranças. Suas expressões variaram de confusão para vergonha e satisfação. Por último, mesmo estando com o rosto avermelhado de timidez, ela sorriu para mim, mostrando sua única covinha. 
Esse sorriso tirou qualquer dúvida. Ela se lembrava, e amou o momento tanto quanto eu.


-Tá rindo porque, palhaço? - Pri me cutucou com um lápis no braço.
Eu a olhei ainda sorridente e dei um beijo estalado em seu rosto.
-Tá louco?! - ela riu também - Da onde veio esse sorriso macabro e esse beijo totalmente interesseiro?
-Lembrei de algo engraçado, só.. - respondi inocentemente.
Pri revirou os olhos e se inclinou para mais perto de mim. Ela ia falar algo importante que ouvidos alheios não podiam escutar.
-Eu estou de rolo com um garoto - murmurou ela.
Sorri animado com a notícia. - Quem?!
-Eduardo Lima, isso te lembra alguma coisa?
Meu sorriso se transformou em uma gargalhada estranha.
-O EX DA ANA! - exclamei, sem acreditar.
-Sim! - respondeu ela, contagiada com a minha animação - Conheci ele num jogo de boliche e desde então não paramos de conversar. Nem me toquei que ele era ex da Vaca, só quando ele comentou que teve uma namorada ruiva e que ela o traiu com um "tosco magrelo". - mais risadas - Ele é legal. Engraçado e bobão, sabe.
-Bem sua cara. Espero que "bobão" não signifique burro, porque já basta você de loira na relação.
Senti meu braço arder quando ela me acertou um tapa. Rimos juntos.
-Cala a boca, João Guilherme.
O momento realmente me fazia bem. A sensação de leveza me permitia ser o "Guilherme de sempre". Eu estava rindo naturalmente e me divertindo com a Pri como nos bons tempos.
Olhei em meu relógio de pulso e bufei discretamente. Ainda faltavam 40 minutos para eu poder me realizar de vez, abraçando e tendo a Ana de volta. Eu precisava ser paciente.

Capítulo dedicado à @_ClariLettche 

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