Capítulo Doze - Just Let it Flow
-Espera. Volta tudo. A Ana te ligou e disse que queria voltar?
Bufei e olhei para o Henrique como se ele tivesse uma melancia na cabeça.
-Porra Loiro, qual é o teu problema hoje? Já falei duas vezes! Presta atenção e para de olhar a bunda da Luíza por favor.
Meu amigo totalmente sem noção estava sentado do meu lado, no chão do pátio do colégio, enquanto esperávamos o portão abrir. Eu, ansioso demais, não conseguia me conter enquanto balançava as pernas num ritmo desregrado. Ele, insistia para eu contar o que havia acontecido com Ana, mas não prestava atenção em minhas palavras. Na verdade, ele secava o corpo da Luíza sem vergonha nenhuma, mesmo ela sendo minha ex namorada.
-Ah, cara... Ela é gostosa, sabe - balbuciou ele, sem tirar os olhos da garota.
Acertei-o com uma cotovelada nas costelas. Ele riu e me olhou com a expressão mais marota do mundo.
-Foi mal Guiza, mas você realmente teve um bom gosto. Bom pra mim que você a largou.
Revirei os olhos e ri com ele.
-Viado imprestável - resmunguei.
-Vacilão - retrucou - Ela vale mais que a Ana, babaca.
Talvez. Não respondi mais nada porque ele voltou a olhá-la e, pela sua expressão séria, provavelmente pensava em uma boa cantada. Não ia me ouvir mesmo.
Passaram mais uns dois minutos até o portão abrir. O som do grande bloco de ferro se arrastando me fez levantar num pulo e passar por todo mundo para sair. Não despedi do Henrique, mas ele também nem ligaria.
Quando consegui passar pelo portão, respirei o ar poluído de São Paulo e sorri com aquilo. Fazia um tempo que eu não parava pra respirar fundo daquele jeito, e na euforia que eu estava, aquilo me fez bem.
Sério.
A frente do colégio estava lotada: pais, alunos, amigos de alunos, professores e toda a palhaçada de sempre em horário de saída. Achar a Ana não ia ser fácil, eu teria que ficar na ponta dos pés e tentar ver uma cabeça de fósforo gigante -ri sozinho ao lembrar o quanto ela odiava quando eu a chamava assim-.
Atravessei a rua para conseguir uma visão melhor e quando pisei na calçada do outro lado, uma voz infantil e levemente irritante gritou meu nome, fazendo os pelos da minha nuca se eriçarem:
-Guilherme!
Por um momento, passou pela minha cabeça não olhar. Toda aquela humilhação na frente dos meus amigos, a traição, o desprezo...
Mas foi só por um curto momento mesmo. Eu não conseguia dar muita atenção à razão quando se tratava da Ana.
Antes mesmo que eu me virasse para vê-la, braços envolveram a minha cintura por trás. Eram pequenos e me apertavam com muita força, quase me deixando sem ar.
Na real, me deixaram mesmo sem ar, mas não por causa de sua força.
Eu podia sentir seu coração martelando em minhas costas e seu perfume doce se misturando com o ar.
Não havia dúvidas, eu conhecia aquele toque, aquele cheiro e aquela sensação como ninguém.
Virei o rosto e vi os costumeiros fios vermelhos em volta de um rostinho invisível para mim -ela estava com o rosto enterrado em minhas costas-. Tudo pareceu tão certo e tão comum que eu mal lembrava de todo aquele rolo. Toquei com cuidado seus braços que apertavam meu corpo e suspirei aliviado ao sentir que nada tinha mudado. Eles estavam meio frios e macios como sempre estiveram. Como a velha Ana de sempre.
A minha Ana de sempre.
Afrouxei o aperto de seus braços para eu poder me mexer. Eu não estava pensando racionalmente, apenas agia de acordo com a minha vontade. Sem regras, raiva ou orgulho.
Virei totalmente meu corpo para ver a pessoa 10 centímetros mais baixa, que me olhava de um jeito curioso e paciente, esperando pela minha próxima atitude.
Aí sociedade, podem me chamar do que vocês quiserem, mas quando vocês amarem alguém como eu amo a menina da covinha de um lado só, vocês entenderão. É amor com uma paixão adolescente totalmente irracional e imatura.
É foda.
E eu fiz exatamente o que meus hormônios loucos e meus sentimentos confusos queriam. Sem falar absolutamente nada, segurei o rosto de Ana com ambas as mãos e beijei seus lábios.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
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