Capítulo 4 - O Prancha
Quem me apresentou o João pela primeira vez, há dois meses atrás, foi a própria Ana. Ele era vizinho dela, amigos de uns bons anos. Por coincidência ou não, ele estudava comigo.
Antes de toda a merda acontecer, eu até gostava do João. É meu xará, dois anos mais novo que eu e uns 5 mais imaturo.
Como se a maioria das garotas se importassem com maturidade. Elas babavam no cara.
Com os seus míseros 1,67 de altura, João era um dos garotos mais disputados do colégio, pelo sexo feminino claro.
Tenho segurança o suficiente de minha masculinidade para concordar que o cara era realmente alguma coisa. Olhos de um tom verde-escuro, cabelos louros e meio compridos e a pele levemente bronzeada. Parecia um daqueles surfistinhas de filme americano.
Há duas semanas atrás ele ainda era o Prancha, como eu costumava chamá-lo. O baixinho metido a surfista que sempre vinha falar comigo nos intervalos de aula.
-Aê GJ! - era como ele me cumprimentava. Mesmo sabendo que meu nome era João Guilherme e não Guilherme João, o cara insistia em me chamar de GJ. Ele dizia que JG é estranho.
Eu achava muito gay essa frescura de apelido dele, mas acabei me acostumando.
-E aí Prancha - batia em sua mão pequena e bagunçava seu cabelo sedoso. Ele ria.
Nós conversávamos sobre algumas coisas, mas principalmente garotas. Eu ainda estava com a Ana, mas isso não me impedia de comentar as malhadas pernas da Paula, as grossas coxas da Clara, os enormes seios da Mariana e... a bunda epinada da Luíza.
Ele contava das garotas que ele já tinha ficado e como elas reagiam, o que falavam , se beijavam mal ou não, se eram tímidas ou atiradas... tudo. Eu dava muita risada. Como que um guri de 14 anos daquele pegava tanta mulher?
Era engraçado na época, até aquele charme nojento dele alcançar a minha mulher.
28 de agosto de 2009, festa na casa da Bruna, a galera inteira do colegial convidada.
Ia ser foda sem dúvidas. A Bruna sempre fazia festas e elas sempre eram boas.
Levei a Ana e a Ana levou duas amigas.
A noite estava quente e quando chegamos, a piscina da Bruna já estava lotada. Nos cantos já haviam casais e bêbados.
Chegávamos na melhor hora, pelo visto.
Ana foi cumprimentar suas amigas insuportaveis e eu fui trocar ideia com os caras. Peguei uma cerveja, ri das piadas toscas do Jorge e depois de um tempo tirei a camisa e entrei na piscina.
O Prancha estava lá também. O cara sempre colava nessas festas.
-Aê GJ! - sua franja loura e molhada estava quase escondendo seus olhos. Ele exalava muito álcool. Já vi que tinha de aguentar falatório de bêbado pirralho.
-Fala irmão - cumprimentei com uma leve batida em seu ombro.
-Peguei a Luíza, brother! - contou ele com um sorriso orgulhoso. Baguncei seu cabelo e ri. O garoto era mesmo um pegador.
-Opa, e não tá com ela por que?
-Bebi um pouco demais e acabei apertando a bunda dela. Com força - ele riu sem culpa.
-Ela te perdoa.
E perdoou mesmo. Depois de uns 10 minutos eu o vi agarrado com ela no meio da piscina.
Bebi mais uma cerveja e voltei para conversar com a galera de novo. Eu sempre deixava Ana livre para conversar com suas amigas nas festas. Ela estudava muito durante a semana e quase não tinha tempo para se divertir com as garotas.
Já estava na terceira lata quando senti vontade de ver ela um pouco. Haviam passado 3 horas desde que chegamos à festa e eu não a vi nenhuma vez sequer.
Ela não estava na piscina, nem na churrasqueira, nem na sala ou na cozinha. Achei umas de suas amigas e ela falou algo como "A Ana é uma cachorra" e deu risada. Uma risada com forte cheiro de álcool.
Bêbada do cacete.
Passei por ela e continuei procurando. Piscina, churrasqueira, sala, cozinha, jardim, banheiros.
E claro, faltavam os quartos. Ana sempre dizia que não curtia muito subir para os andares de cima em festas porque haviam bêbados tarados nas escadas, mas fui verificar mesmo assim.
Subi as escadas sentindo mãos passando pelo meu corpo. Não olhei de quem eram, apenas as afastei para que eu conseguisse subir.
Cheguei ao último degrau e olhei em volta. Tinha muita gente ali. Abri espaço pelo povo até que algo me parou.
Ela estava de shorts e a parte de cima do biquini. Seu cabelo ruivo estava molhado, assim como o do louro que a beijava. As pequenas mãos dele alisavam seus seios, barriga, cintura e quadril.
Eu pisquei uma. Duas. Três. Sete vezes para tentar enxergar direito a cena.
Ana estava aos amassos com o Prancha.
Senti meu estômago revirar e todo o meu corpo esquentar. Algo em mim estava estourando.
E me fez ficar sem limites. Abri espaço entre as pessoas que me rodeavam, sem me preocupar com a garota que eu derrubei ou a cotovelada que dei em um cara. Alguém me empeitou e várias pessoas começaram a me xingar. Todo o falatório tirou Ana e João do transe romântico. Ele olhou em volta para ver o motivo de tanta discussão e, ao me ver, seu queixo caiu e seus olhos ficaram do tamanho de bolas de golfe.
Ela apenas sorriu pra mim. Foi um sorriso cruel que me deu nojo.
Claro que eu nunca ia encostar um dedo nela. Minha mão fechada foi direto no olho esquerdo do louro e o fez cair no chão de primeira.
Ana gritou e se abaixou para ajudá-lo.
Falsa. Vulgar. Superficial. Vagabunda.
Eu dei as costas e ignorei a porção de palavrões dirigidos à mim. Empurrei todos que estavam na minha frente, chutei dois copos que estavam no chão fazendo ambos estourarem e nem me preocupei em pegar minha camiseta.
Saí de lá com um gosto amargo na boca. Ódio misturado com traição.
Ia ser um gosto difícil de esquecer.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
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2 comentários:
good work
O melhooooor!
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