Quatro dias de suspensão. Quatro longos e tediosos dias sem nada pra fazer.
Cheguei em casa e fui direto para meu quarto. Larguei minha mochila no chão, tirei o tênis de qualquer jeito e me joguei na cama. Era tudo que eu precisava: cama e inconsciência.
Milhões de pensamentos passavam pela minha cabeça rapidamente. A Pri, o Prancha, a Ana, a festa, a suspensão, o banheiro dos funcionários. Tudo estava se transformando em um enorme borrão e logo caí no sono.
No exato momento em que comecei a sonhar com qualquer coisa, o telefone de casa tocou. Alto, irritante.
Porra.
Pensei em deixar tocando, mas era impossível dormir com aquilo. Levantei à contra gosto e fui atender.
-ALÔ - usei a voz mais grossa e sem educação que eu tinha.
-Posso falar com o Guilherme? - disse uma a voz do outro lado da linha.
-Aham, sou eu.
-Eae moleque zica, é o Juninho.
Juninho! Meu sono se evaporou na mesma hora.
-Eae Juninho!
-Beleza? Cara, vou falar rápido porque to no meio da aula: tem rolê hoje lá no átrio, vamos?
Era sempre assim. O Juninho era sinônimo de diversão, sempre ligava pra me chamar para algum rolê. Me animei rápido. Por alguns segundos até esqueci a Ana. A estranha animação me fez sorrir.
-Demorou, que horas?
-Às 4, vou desligar.
E desligou.
Era exatamente o que eu precisava: sair, me divertir, ver gente diferente. Foi difícil convencer minha mãe, mas no fim das contas ela viu que não adiantava nada me prender em casa.
Cheguei no átrio antes das quatro. Tinha pouca gente, mas a maioria eu conhecia. Juninho já estava lá, fumando maconha, como sempre. Quando ele me viu abriu um sorriso enorme e veio me dar um abraço.
-Eae campeão - disse ele batendo nas minhas costas - Qual é a boa?
-Boa? Nada, cara - respondi rindo.
-Mano, tá falando daquela vadia? Meu irmão, esquece aquilo. Olha pra isso daqui - ele apontou para um grupo de garotas perto de nós. - A vida continua depois da ruiva.
O Juninho não tinha papas na língua pra falar de mulheres. Nem respeito. Aquilo me fazia bem, de certa forma.
Eu ri com ele e apenas concordei com a cabeça. Não adiantava discutir, O cara estava em pleno êxtase, sorrindo por bastante tempo, falando devagar e achando tudo muito lindo. Eram os efeitos da erva.
-Cara, fala sério. Você tá bolado mesmo? - perguntou ele sem rir.
Dei de ombros.
-Acho que sim. Eu gostava da mina.
-Então eu tenho a solução.
Comecei a rir, lá vinha bobeirada.
Ele tirou o pequeno cigarro da boca e estendeu pra mim.
-Isso aqui é o segredo da felicidade, as vezes.
Primeiro eu olhei incrédulo. Já cansara de ver gente se drogando mas nunca ninguém tinha me oferecido diretamente. Era estranho e desconfortável.
Logo depois eu sorri, descontraído. Era fácil recusar.
-Não cara, valeu.
Ele revirou os olhos.
-Isso não é DROGA, é uma planta. É natural e só vai te fazer bem. Sua alto-estima vai lá em cima e tudo vai ficar mais leve e gostoso de ver.
Eu nunca tive vontade de usar droga nenhuma e tinha muita segurança em falar não para qualquer pessoa que me oferecesse.
Mas dessa vez era diferente.
Eu já havia lido sobre os efeitos da maconha. Eu sabia que era bom.
Por que não?
Pensei na Ana. Em tudo que passamos juntos e em como tudo acabou do nada.
Mas e daí? Eu só tinha 16 anos e minha vida estava só começando.
Peguei o cigarro da mão do Juninho e ele sorriu com a minha atitude.
-Vai fazer bem, fica de boa. Sabe como fumar?
Eu não sabia, mas ele me explicou brevemente. Levei o cigarro até a boca e fiz como ele me ensinou.
Rapidamente senti minha garganta quente e meus olhos arderem. Tossi em resposta.
Juninho deu risada.
-Tenta de novo.
Mais uma vez. E outra. E outra. Até eu conseguir não tossir.
Em pouco tempo eu me senti leve. Leve e feliz. A Ana parecia um balão distante de mim. Eu não me importava tanto.
Os amigos do Juninho começaram a elogiar minha rapidez pra aprender a fumar e começamos a conversar sobre as garotas. Tudo ficara mais engraçado e mais bonito. Até a cerveja que me deram estava mais gostosa de beber.
Uma garota baixinha de cabelo repicado e preto não parava de me olhar. (Ou era impressão minha?) Bom, talvez eu que não parava de olhá-la, sei lá...
Ela vestia roupas legais. Jeans rasgados, all star e camiseta. Tinha alguns piercings na orelha e no nariz.
A garota era bonita. Na real, todos eram bonitos ali, não tinha reparado naquilo quando chegara.
Dei uma última tragada no cigarro, joguei-o no chão e pisei em cima. Passei a mão no cabelo, jogando-o para trás de qualquer jeito e fui até a garota.
Ela sorriu ao me ver aproximar. Eu retribuí o sorriso e estendi minha mão para cumprimentá-la.
-Guilherme - me apresentei. Minha voz estava legal, meio grossa e tudo mais.
-Ana - respondeu ela, apertando minha mão e rindo.
Porra de Ana. Ela tinha que ter um segundo nome.
-Só Ana?
Ela estranhou a pergunta.
-Ana Julia, por que?
Sorri satisfeito.
-Júlia! Muito prazer.
E eu a beijei logo, porque sinceramente não tinha muito o que falar. Eu estava confiante e não me importava com muita coisa.
Sua boca tinha gosto de ice, era bom. Ficamos alguns segundos nos beijando até que ela parou, sorriu e me ofereceu a bebida. Tomei um grande gole e sorri também. Aquilo era bom demais.
Ela bebeu mais um pouco e voltou a me beijar.
Senti meu corpo se esquentando aos poucos enquanto o beijo se prolongava. Minhas mãos tocavam o corpo da garota sem que eu percebesse e ela não fazia nenhuma objeção. Pelo contrário, me incentivou mordendo meu lábio inferior.
Meu celular vibrou no bolso, interrompendo o momento.
Gemi baixo com o barulho e a garota riu.
-Não tem problema, atende aí.
Novamente o maldito telefone.
-ALÔ - tentei fazer a voz mau humorada mas saiu algo lento e desanimador.
-Guilherme? Ei, é a Ana. Precisamos conversar.
0 comentários:
Postar um comentário